Ambientalismo – Caminho para Espiritualidade

Transcrição da palestra pública proferida em 19 de agosto 2005 e entrevista sobre o assunto no programa Caminhos do Universo apresentado por Carlos Conte em janeiro de 2008.


Entrevista:


Texto:


O equivoco do atual sistema
Quando da última passagem do atual Dalai Lama pelo Brasil, em uma das conferências por ele proferida, foi feita uma pergunta sobre espiritualidade. Em resposta ele expôs que a espiritualidade depende da obtenção da felicidade e que, para tanto, o homem precisa ter saúde e isso depende de um ambiente preservado e diz, ainda, que para se levar uma vida correta é necessário que o homem mantenha uma relação amistosa com seus os semelhantes, os animais e o meio ambiente.
Naturalmente espiritualidade é um assunto muito amplo, mas a visão exposta pelo Dalai Lama é muito interessante, pois remete à necessidade do homem estar intimamente integrado não só com seus semelhantes, mas também aos animais e ao próprio meio ambiente onde vive.
No cristianismo é dito “o que eu fizer ao meu semelhante eu estou fazendo a mim mesmo”, mas essa visão é muito mais ampla, pois essa interatividade não é somente com o semelhante, mas também com tudo que existe ao nosso redor. É a visão da unicidade.
Essa visão é a raiz de todas as antigas tradições, principalmente aquelas ligadas ao oriente.
Poucos são aqueles, no ocidente, que se alinharam a essa visão. Podemos citar Pitágoras, Platão, os Neoplatônicos, no século II DC., Spinoza, Leibniz, Goethe e mais recentemente Blavatsky e Jung.
Os pensadores ocidentais, em sua maioria, forjaram-se na lógica aristotélica e no racionalismo de Descartes, qualquer que seja a área de atuação. Uma visão puramente mecanicista.
Sabemos que o cérebro humano é dividido em dois hemisférios. O esquerdo comanda todas as funções racionais, como a fala, o raciocínio, as concepções concretas, enquanto que o hemisfério direito corresponde ao pensamento abstrato, à intuição, à capacidade criativa.
O desenvolvimento no ocidente privilegiou integralmente o hemisfério esquerdo cerebral, onde toda a nossa cultura foi orientada a produzir uma sociedade alicerçada em valores concretos, valores associados a pesos e medidas lineares, e, por extensão, à competição, ao lucro, à concentração de riquezas, à luta de classes e desigualdades.
Expoentes do pensamento econômico e da administração, como Adam Smith, Fayol, Taylor, deram origem ou incrementaram fenômenos sociais, como as revoluções industriais, em suas diferentes fases, onde se acelerou o desenvolvimento de máquinas, da tecnologia, da extrema especialização da mão de obra e a conseqüente perda da visão abrangente, do todo.
A revolução industrial determinou o consumo de níveis crescentes de insumos naturais, principalmente combustíveis para alimentar as máquinas: inicialmente madeira, depois carvão mineral e por último o petróleo. Determinou também a concentração da população em grandes centros urbanos, cujas demandas por combustíveis fósseis também foram e são igualmente crescentes.
Então, o que nós vemos é um quadro de real preocupação, pois se acredita que se chegou ao limite da sustentabilidade do planeta.
Quando eu falo de valores orientais, não estou fazendo referência a uma posição geográfica no planeta, mas sim a valores que estão perdidos.
Agora temos uma grande crise global em aceleração, totalmente originada neste padrão equivocado de pensamento onde continua a privilegiar o consumo, a conquista, a competição, centrados no desejo de ter e estar.


Destes "valores", agora disseminados pela globalização, fortalece-se ainda mais uma estrutura econômica paradoxal em seus efeitos, pois faz com que as riquezas estejam cada vez mais concentradas em poucos, em detrimento de uma multidão de seres mergulhada no mar da exclusão e da desesperança.


Então, são visíveis os resultados: perda de cultura e de identidade, degradação moral, segregação social e racial, intolerância para com as diferenças e, principalmente, destruição implacável do meio ambiente, o que coloca o nosso mundo sob real ameaça de proporções gigantescas.
Recentes fatos – formadores da nova visão  
No entanto, este desalentador quadro pode mudar com uma nova consciência que tem origem em movimentos como a própria teosofia (comprometida desde sua fundação há mais de 130 anos com ideais de construção do mundo solidário), e outros de caráter humanista que atua na formação de "nova consciência". Esta nova consciência remete ao antigo conceito de que somos verdadeiramente conectados numa grande teia de mútua e íntima interação.
Esta percepção começou a ganhar contornos mais concretos no final do século XX.
Na foto ao lado, por exemplo, obtida pelo Hubble do fundo do espaço, vemos uma miríade de pontos luminosos que são galáxias. São bilhões de galáxias visíveis e cada uma é constituída por bilhões de estrelas.
Somente a nossa galáxia, a Via Láctea, tem 400 bilhões de sóis. A extensão de nossa Via Láctea é de 100 mil anos luz e, o nosso sistema solar fica, aproximadamente, 30 mil anos luz do núcleo da galáxia.
Estima-se que a vida pode ser desenvolvida em um anel distante 25 mil a 30 mil anos luz do núcleo, havendo, portanto, nesse anel perto de 20 bilhões de sóis; alguns deles com planetas. Se existe ou não vida não se sabe, porém é altamente provável que exista. Mas que tipo de vida? Inteligente? Que usa recursos de tecnologia avançada? Não sabemos.
Sabemos sim, que em nosso sistema solar não existe esse tipo de vida. Então, a vida em toda a sua manifestação exuberante está restrita ao nosso planeta Terra.
Vemos que a Terra é como um oásis em imenso deserto.
A mesma tecnologia, produto da mente racional, acaba também a ser utilizada, felizmente, para despertar novas concepções.
As fotos da Terra produzidas no espaço são produtos da aventura do homem no espaço exterior e é a partir daí que começou a ganhar força os movimentos ambientalistas.
No início da década de 70, quem fosse alinhado a esse pensamento, era considerado exótico; excêntrico.
Tivemos o movimento hippie, que tanto perturbou “os bons costumes” da época, que na realidade contribuiu para o resgate de valores alinhados ao ambientalismo. O Geenpeace, por exemplo, é resultante do movimento hippie, assim como os partidos verdes, que tendem a ganhar força política no futuro.
No curso da década de 80 tivemos três acidentes ambientais de grandes proporções que foram determinantes para o aumento da preocupação ambiental.
O primeiro, há 20 anos, em dezembro de 1984, foi devastador. Em Bhopal, na Índia, havia uma indústria química produtora de defensivos agrícolas, pertencente a Union Carbide e, por negligência de manutenção, ocorreu o vazamento de um gás altamente tóxico, denominado isocianato de metila, matando aproximadamente 20 mil pessoas, por asfixia. Existem hoje 150 mil pessoas que ainda sofrem com seqüelas provenientes desse acidente. A Union Carbide foi, posteriormente, vendida à Dow Química, que até hoje não reconhece o passivo de indenização para com as vítimas.
O segundo acidente, ocorrido em 1986, todos devem se lembrar, foi o de Chernobyl, a maior catástrofe nuclear da história. Houve um vazamento de radiação do reator da usina nuclear. Isso provocou a contaminação de grandes áreas, envolvendo vários países da Europa.
O terceiro acidente foi em 1989, tendo ocorrido o vazamento de petróleo de um navio da Esso, o Exxon Valdez. Ele derramou uma grande quantidade de óleo no Alaska, causando grande impacto ambiental para a vida marinha e aves.
Esses acidentes são emblemáticos e serviram para mobilizar e pressionar as nações para que as questões ambientais, sendo que em 1992 ocorreu a primeira grande reunião de países, para discutir o assunto, a Eco-Rio [As bases para a Eco-92 foram lançadas em 1972, quando a ONU organizou sua primeira conferência ambiental, em Estocolmo, e em 1987, quando o relatório "Nosso Futuro Comum", das Nações Unidas, lançou o conceito de desenvolvimento sustentável].
Posteriormente, em 1996, tivemos a terceira reunião em Kyoto, onde foi assinado um protocolo, por 141 países, onde 30 se comprometiam a reduzir emissões de gases poluentes.
Os Estados Unidos também foram signatários, na gestão Clinton, que tinha o seu  Vice-Presidente, Al Gore, comprometido com discursos por causas ambientalistas. Porém com a eleição de Bush e seu Vice Dick Cheyne, defensores dos interesses de empresas americanas produtoras de petróleo, houve a retirada da assinatura do acordo e como os Estados Unidos são os maiores poluidores, as metas de redução de emissão ficaram vazias.
Hoje as questões ambientais estão em pauta. A ISO, organismo internacional que estabelece padrões normativos, estabeleceu em 1996 uma norma para a certificação de empresas que adotem um sistema de gestão ambiental, que é a ISO 14000. O assunto realmente está sendo foco de preocupações, havendo uma vasta legislação estabelecida, principalmente no Brasil.
O ambientalismo virou modismo, sendo comum as pessoas se auto nomearem “ambientalista”.
Mas o ambientalista verdadeiro, não pode deixar de se pautar por princípios éticos e espirituais.
Planeta e homem – Um só corpo
O planeta Terra é constituído por três elementos: Terra, Água e Ar. Existe o quarto elemento, que é o fogo, mas este no caso é o agente de transformação dos demais elementos. Esses elementos são essenciais para que haja a existência da vida, na forma material como a conhecemos.
Esses elementos devem estar devidamente equilibrados, pois caso contrário, não há sustentabilidade das condições adequadas à vida.
É engano acreditarmos que um  elemento está desassociado do outro. O que se fizer a um, afeta o outro.
Se contaminarmos o solo, essa contaminação será transferida para a água, através de lençóis freáticos, rios e mares. Se contaminarmos a água, a mesma contaminará o solo e o próprio ar. Se contaminarmos o ar, o solo e mananciais de água também serão afetados através de chuvas contaminadas.
Então, vemos que o Planeta, é análogo ao um ser orgânico vivo cujas partes se interligam em processo de mútua dependência.
A Terra é análoga ao corpo humano. Qualquer comprometimento de uma parte comprometerá o todo. Este é conceito milenar que está contido em todas as antigas tradições e que recentemente foi resgatado pela Teoria de Gaia, também conhecida como Hipótese de Gaia, tese criada pelo cientista e ambientalista inglês James Lovelock, no ano de 1969. Afirma-se que o planeta Terra é um ser vivo e que possui a capacidade de auto-sustentação, gerando, mantendo e alterando suas condições ambientais.
Podemos aplicar também a teoria de sistemas para a questão, pois existe uma tendência universal dos sistemas, qualquer que sejam eles, econômico, social ou ambiental, de passar de uma situação de ordem à crescente desordem, que é a entropia. Entropia é uma palavra emprestada da termodinâmica e aplicada  para explicar o mesmo fenômeno à teoria de sistemas. Mas se existe essa tendência natural de dispersão, sabendo que a existência do planeta é temporal, isso não significa que temos o direito de acelerar esse processo.
Mas o que acontece hoje é que o modelo de desenvolvimento, calcado numa matriz energética fóssil, está acelerando esse processo e é essa matriz de “desenvolvimento” a geradora de todo impacto de poluição.
Assim, temos as poluições do ar, como o efeito estufa, o buraco na camada de ozônio e a ocorrência de chuva ácida, assim como da terra e da água.
O efeito estufa – a perda do controle
A questão do efeito estufa é a que mais preocupa, pois está intimamente ligada à alteração do clima global, ao aumento da temperatura.
O efeito estufa é determinado pela entrada de radiação solar, que atravessa a atmosfera. A maior parte da radiação é absorvida pela superfície da terra, aquecendo-a. Parte da radiação é refletida para o espaço, mas, em razão da grande concentração de gases na atmosfera, parte dessa radiação fica confinada, criando o aumento da temperatura.
A situação é a mesma que percebemos aqui nesta sala, que está fechada. Nós todos que estamos aqui expelimos através da respiração gás carbônico, saturando a nossa atmosfera da sala. Se a nossa palestra durar 3 horas, ninguém conseguirá permanecer aqui, pois faltará oxigênio.
A emissão desse gás carbônico, denominado dióxido de carbono, ou CO2, é até certo ponto necessária para a Terra, pois as árvores o utilizam para o processo de foto-síntese, fornecendo em troca oxigênio, mas o seu excesso é danoso, pois satura a atmosfera e cria o efeito estufa.
O dióxido de carbono não é, portanto, um gás venenoso, pois se fosse todos nós estaríamos mortos, pois ele é usado para gaseificar os refrigerantes. Diferentemente do monóxido de carbono, o CO, este sim tóxico, que é principalmente produzido pela queima de combustíveis em motores. O CO polui mais a estratosfera. A diferença é a intensidade da queima. A queima rica em oxigênio gera o CO2, uma molécula de carbono e 2 de oxigênio, resultante principalmente de queimadas. A queima de combustíveis por meio de motores gera também o CO.
Mas não é só o CO2 que causa o efeito estufa. O metano é mais danoso ainda, mas não é emitido em intensidade tão elevada como o CO2. Existem outros gases que também contribuem para o aquecimento global.
O aquecimento global só não é mais sentido por causa das calotas polares. Por exemplo, se colocarmos uma bacia de gelo aqui dentro da nossa sala, o que acontecerá? Vai derreter, não vai? Ao derreter esse gelo está absorvendo o calor do ambiente, compensando um pouco esse calor gerado. A mesma coisa ocorre com as calotas polares e geleiras. Elas absorvem o calor da atmosfera diminuindo um pouco a aceleração do aquecimento.
Nós temos exemplos do que vem ocorrendo com as geleiras. No Himalaia indiano as geleiras estão recuando à razão de mais de 20 metros ao ano, provocando inundações, como as que vimos há duas semanas. A Índia tem grandes rios que nascem no Himalaia, o Ganges, Brahmaputra e Indo, que pelo desgelo ocorre todas essa inundação. Na Antártida tivemos o desprendimento de grande iceberg, do tamanho de Luxemburgo. Isso jamais foi visto.
Isso deverá determinar profundas alterações climáticas e já estão acontecendo. Há previsões que possa ocorrer um aumento da temperatura média na ordem de até 5o até o final do século, o que seria uma catástrofe para os países insulares, pois aumentaria o nível dos mares.
Alguns climatologistas afirmam que a alteração do clima é produto das emissões. No entanto existem cientistas que professam a teoria de que isso faz parte de processos cíclicos no planeta, mas muitos são financiados por centros de pesquisas ligados a empresas do ramo do petróleo, não havendo isenção.
É certo que pode haver exageros por parte dos climatologistas, porém tudo indica que o componente de emissão tem sido determinante para as mudanças climáticas.
O grande problema é que o processo de emissão é muito grande e acredito ser impossível refreá-la.
O protocolo de Kyoto, tanto falado na mídia, fixa metas bastante modestas para a redução desses gases. A redução média é de 5% desses gases, por 30 países industrializados, sobre as emissões registradas no ano de 1990. A redução deverá ocorrer entre os anos de 2008 ao de 2012. Isso deve representar uma redução de 700 milhões de toneladas, mas o aumento progressivo de novas emissões é maior do que a redução que se pretende atingir.
O ranking dos países poluidores [segundo os dados apresentados pela Convenção de Mudança Climáticas, que ocorreu em Haya, com dados de 1997] é :Estados Unidos 24%; China 14%; Federação Russa 6%; Japão 5%; Alemanha 4%; Índia 4%; Reino Unido 2%; Canadá 2%; Itália 2%; Coréia 2% . O Brasil ocupa o 17° lugar com 1% das emissões de CO2 no mundo, mas isso não considera as queimadas que estão ocorrendo.
Existem países que não conseguirão cumprir as metas e, pensando nisso, criou-se o chamado crédito de carbono, que é uma moeda de troca. Por exemplo, existem países cujas indústrias não conseguem mais reduzir as metas estabelecidas e então compram dos países que conseguirem superar os 5%.
Um exemplo é o que foi feito aqui em São Paulo, no Aterro Sanitário Bandeirantes, onde foi construída uma usina termelétrica movida a metano captado dos drenos de gases do aterro. O lixo gera o metano, o biogás, que normalmente é queimado na superfície. Isso gera CO2, mas é melhor queimar do que liberar o metano pura e simplesmente, pois este é mais nocivo. Esta usina ao captar o biogás e para produzir energia elétrica, está diminuindo a emissão de gases e isso pode ser remunerado através da venda desses créditos. Uma tonelada de carbono, seqüestrada, é esse o termo que se usa, vale atualmente no mercado internacional US$ 5. É um mecanismo que estimula empreendimentos voltados à melhoria ambiental, sem o qual ninguém investiria.
Porém todas as medidas do protocolo são meramente paliativas, não tendo a capacidade de conter o efeito inercial provocado pelas emissões passadas, assim como não representam a redução necessária.
Assim o que se desenha é um desastre ambiental anunciado, com reflexos incertos em suas formas, mas desalentador para a humanidade.
Nas próximas décadas devemos colher a safra dessa irresponsável semeadura, o que redesenhará as fronteiras geopolíticas.
A solução para o buraco na camada de ozônio e chuva ácida – exemplos de regeneração
A atmosfera é composta por camadas e uma delas, a 25 kms de altura é constituída por esse elemento químico que tem por finalidade criar uma proteção para a Terra. A radiação emitida pelo Sol é composta de raios ultravioletas, que em determinada medida são benéficos para a vida, pois eles são germicidas, matando vírus e bactérias. Mas se forem liberados em grande quantidade matam inclusive os humanos, de câncer de pele.
Os cientistas observaram que a partir do final da década de 70 estava se formando um buraco nessa camada de ozônio e progressivamente foi aumentando. Descobriu-se que o principal agente dessa destruição era o CFC, já citado pelo Rogério anteriormente. Esse gás era utilizado para sistemas de refrigeração, como ar condicionados, geladeiras, sprays. Esse gás passou a ser proibido, porém ainda existe em muitos locais, à medida em que temos muitas geladeiras antigas. Esse gás ao vazar sobe até a estratosfera e por um processo químico ele destrói as moléculas de ozônio.
Existem outros fatores que destroem o ozônio, como os jatos ultra-sônicos, que voam nessa altitude, mas não em tanto número assim. Essa questão do buraco na camada de ozônio parece estar bem encaminhada e sob controle.
Já a chuva ácida é produzida pela precipitação de chuva misturada com poluentes emitidos na atmosfera por indústrias químicas. Esses poluentes são precipitados e causam degradação do solo, mananciais de água, flora e fauna. Isso é muito verificado em países onde há concentrações de indústrias desse tipo.
Um caso por nós conhecido é o de Cubatão. Quem tem um pouco mais de idade vai se lembrar que toda a mata atlântica que cobria a Serra do Mar naquela região foi morta e após um grande esforço, onde as indústrias foram obrigadas a instalarem filtros e monitorarem suas emissões, tivemos a recuperação. Mas foi necessário que todas aquelas região fosse replantada, através da dispersão de sementes lançadas por aviões.
Vejam como a Terra realmente se compara com o nosso corpo. Se eu fizer um corte superficial em minha mão, não há necessidade de medicamento, bastando que eu faça a assepsia, lavando com sabão. O próprio corpo através de um processo de auto-cura se encarregará da reconstituição dos tecidos e o mesmo ocorre com a natureza.
Porém, caso o corte seja profundo, haverá a necessidade de suturas ou até a amputação. Na natureza, dependendo do dano provocado, necessita ser auxiliada, para que o processo de reconstituição seja efetivado.
A água – fonte da vida
Com relação à água há também uma relação de analogia entre a Terra e o nosso corpo físico. O planeta é constituído de 70% de água e 30% de massa, assim como a nossa estrutura física. Não será a Terra também um corpo plasmado de um grande ser?
Muitos, dentro de um raciocínio simplista colocam que a água não é um problema na Terra, pois ela está disponível em abundância, mas isso não é a realidade.
De toda a água disponível 97,5% se encontra nos mares, portanto salgada. A doce é somente 2,5%.
Se colocássemos toda essa água em um copo a doce corresponderia à capacidade de um conta-gotas. Mas não fica somente nisso. Dos 2,5% a grande parte concentra-se nas calotas polares, correspondendo a 75%, portanto não tendo como ser utilizada. No sub-solo temos 24% da água doce, mas também não podemos utilizar indiscriminadamente, pois isso pode provocar problemas, sob o risco de comprometer a sustentação do solo, além de contaminar os lençóis.
Então, a água aproveitável é muito pouca, não chega a 1% da água doce do mundo, o que corresponderia a apenas uma gota do conta-gotas, dentro da analogia que fizemos do copo. E esse 1% compreende as águas dos rios que muitas vezes estão longe dos grandes centros populacionais. Vejam o Rio Amazonas. Toda a sua água não tem como ser utilizada, pois é uma área de baixa densidade demográfica.
A questão da água é preocupante, existindo muitos países que não tem acesso a ela. Pela degradação do solo as nascentes tendem a morrer, pois elas dependem das matas. Mesmo o Brasil que é privilegiado pela quantidade de água existente o assunto requer atenção. Nas regiões ao sul e sudeste, nos períodos de estiagens, já enfrentamos sérios problemas de racionamento e cada vez vai se buscar água em locais mais distantes.
Na região amazônica, pelo processo de desmatamento, a água tende a reduzir, assim como o solo deve ser degradado, pois o solo amazônico é pobre, arenoso. A camada fértil é muito superficial, produto da decomposição de material orgânico gerado pela própria floresta.
Então se você desmata, o solo pode ser utilizado por alguns anos e depois virá areia. Lembremos que o Saara, outrora, foi uma grande floresta tropical.
Questiona-se sobre a possibilidade do aproveitamento de água salgada e realmente é possível. No oriente médio, onde a água é extremamente escassa, existem usinas de dessalinização, mas essa é uma solução muito cara e somente se viabiliza quando forem esgotadas as demais alternativas. 
Demanda por energia – A gula desenfreada
Qualquer atividade humana causa impacto ambiental, porém existem atividades mais danosas que outras.
A sociedade, pelo modelo econômico adotado, necessita cada vez mais de energia e é justamente essa matriz energética a raiz de todos os problemas.
A sociedade necessita de energia crescente. Combustíveis que acarretam todos os problemas de poluição atmosférica, água e solo, assim como a demanda por energia elétrica é igualmente crescente, pois tudo depende de eletricidade.
No Brasil, por exemplo, a energia elétrica é produzida através de hidrelétricas, dada ao potencial hidrográfico existente, embora esses recursos já estejam esgotados. A construção de barragens tem um custo ambiental e social bastante significativo quando de suas implantações. Perderam-se muitas espécies de flora e fauna, quando da construção de Itaipu, por exemplo, além do desaparecimento de cidades que foram submersas.
A geração de eletricidade por meio hidráulico é a mais barata, pois a capacidade de geração é bastante grande, porém depende do índice pluviométrico. Alguns anos atrás nós tivemos problemas sérios com os apagões resultantes da sobrecarga dos sistemas, pois a geração estava no limite de sua capacidade além de estarmos na época em período de grande estiagem, com pouca água nas represas.
No Brasil ainda nós temos a geração de energia, em menor escala, a partir de termelétricas e usinas nucleares. As termelétricas são normalmente movidas a diesel, gerando muita poluição sonora e atmosférica. Cidades no norte, principalmente, são abastecidas por esse meio de geração. Já, as nucleares têm um grande potencial de geração, mas extremamente perigosas. No nosso caso temos duas em Angra dos Reis e a terceira está sofrendo muita resistência dos ambientalistas para ser colocada em funcionamento.
Em outros países, principalmente na Europa, se obtém energia através de usinas nucleares.
Na foto produzida por satélite à noite demonstra como se concentra o consumo de eletricidade. Vemos grandes concentrações de luzes em regiões cuja geografia não dispõe de recursos hídricos suficientes para gerar toda essa energia, sendo realmente produto de termelétricas e fissão nuclear, altamente prejudiciais ao meio ambiente.
Então o grande desafio que se coloca ao mundo desenvolvido são essas questões. Como o homem solucionará essas questões? Como Gerar mais energia, sem impacto ambiental significativo?
Não vejo desfechos felizes para esse modelo de desenvolvimento, mesmo porque o petróleo está se exaurindo e para esta sociedade é dependente desse produto, não só na sua utilização como combustível, como também em aplicações diversas, como na indústria têxtil, petroquímica, eletrônica, haja vista a multiplicidade do uso que se faz de todo material plástico em nossas vidas.
Essa matriz energética levará a disputas acirradas entre nações pela posse das últimas reservas disponíveis, além de criar um custo insustentável para o equilíbrio ecológico.
O desenho do amanhã – depende de nossa consciência espiritual (o futuro está aberto)
Por outro lado, nós temos que compreender que esse é um processo de grandes transformações que estamos a enfrentar.
A postura humana isolacionista, apartada do todo, está alinhada a uma curva descendente, que são valores alinhados àquela visão mecanicista.  No entanto, em contrapartida, vemos que começa a ganhar força novos valores alinhados a outra curva, em ascensão, que está em contraposição, provocando uma ruptura com os velhos padrões. Esta ruptura ao meu ver já iniciou, mas deverá se intensificar nos próximos anos. 
Por isso que o presente momento é um tanto que confuso, mas se analisarmos com atenção, nem tudo o que está acontecendo é realmente ruim. Estão sendo desenvolvidos novos dispositivos geradores de energia ambientalmente auto-sustentáveis, que deverão assegurar um melhor padrão de qualidade de vida ao Planeta e a todos nós.
Dependerá de como o homem conduzirá esse processo. Se ele irá adotar uma postura preventiva ou terá que reparar prejuízos provenientes de catástrofes ambientais, talvez com custos de vidas humanas e passivos irrecuperáveis, como é o caso de extinções de espécies, por exemplo.
Como exemplos de fontes renováveis de energia estão surgindo soluções interessantes que deverão ter seu uso ampliado nos próximos anos.
A energia eólica é um exemplo, sendo já utilizada em muitos locais, como na Alemanha, onde são implantados grandes geradores em fazenda, que recebem subsídios.
Existem mais alternativas de energia, como é o caso de placas térmicas instaladas sobre o telhado das casas para o aquecimento de água, a partir da radiação de luz solar. Ainda, a partir da radiação solar, existem as células fotovoltaicas, que produzem eletricidade.
Há ainda a energia produzida pela biomassa, alimentando termelétricas ou mesmo outros motores a combustão. Aqui no Brasil, o álcool anidro já é uma realidade, assim como o biodiesel. Esses combustíveis produzem baixa poluição, embora tenham impactos ambientais no manejo agrícola.
Outro exemplo é o aproveitamento das marés como geradoras de energia. As marés sobem a cada período de 6 horas, sendo que o volume represado quando da cheia é escoado através de dutos, onde são movimentadas turbinas, produzindo-se energia elétrica. Naturalmente a energia produzida é pouca, mas suficiente para abastecer pequenas cidades. O custo ambiental disso é muito pequeno e a fonte é inesgotável.
O próprio hidrogênio está começando a ser usado como combustível, havendo inclusive carros e motos já desenvolvidos e sendo comercializados. A poluição que o hidrogênio emite é inferior a 1% dos combustíveis tradicionais. O grande desafio é a produção do hidrogênio em grande quantidade, mas não é por falta de fonte, pois ele é encontrado na água, no ar, enfim é um combustível renovável e não poluidor.
Então, percebemos que o homem é capaz de criar as condições necessárias para que haja um desenvolvimento sustentável, sem comprometer os meios naturais.
Resta saber, no entanto, se isso não é tardio, pois até quando o planeta resiste à agressão do atual “modelo”?
Se por um lado, esse sistema de vida alicerçado em meios de produção e consumo que degradam o meio ambiente nos coloca em situação de passividade, pois não podemos interferir diretamente no processo, ditado pelos interesses e poder dos grandes agentes econômicos, por outro, podemos e devemos assumir uma postura preservacionista, cientes de que o pouco que possamos fazer, somados a atitudes de igual natureza, poderá representar o diferencial necessário para a salvação ambiental.
Desta forma a transformação é inevitável, sendo urgente que todos nós possamos perceber e compreender a necessidade de engajarmos num processo de mudança de valores, no resgate da importância do ser.


Nenhuma mudança externa, no entanto, ocorre se não for precedida de uma profunda mudança de nossas atitudes internas.


Assim é imperativo transformar o consumo desenfreado em parcimonioso e auto-sustentado, transformar a conquista individual em coletiva e distributiva, substituir a competição egoísta pela cooperação,  respeitando-se, naturalmente, as diferenças, os valores e os anseios individuais.


Isto é chamado espiritualidade. É a experiência humana do sagrado e do divino. É a experiência da vida no uno.

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